Brasil é o quarto país mais perigoso para jornalistas

O governo brasileiro, apesar de democrático, não revela muito apego pela liberdade de expressão.

Press Emblem Campaign (PEC), organização não governamental sediada na Suíça que trabalha na proteção internacional de profissionais de comunicação, apontou o Brasil como quarto país mais perigoso para o exercício do jornalismo.

De acordo com o relatório divulgado pela entidade nesta terça-feira, 2 de outubro, foram registrados sete assassinatos de jornalistas no país apenas em 2012. O Brasil só fica atrás da Síria, que registrou 32 mortes, Somália (16) e México (10).

A ONG revelou que 107 jornalistas foram mortos em 2011, sendo 81 até o mês de setembro. Nos primeiros nove meses de 2012 já foram registrados 110 assassinatos em 25 países, um número 36% maior do que o do mesmo período do ano passado.

Para o secretário-geral da PEC, Blaise Lempen, os conflitos armados na Síria foram determinantes para o aumento da morte dos jornalistas. Só no país, ao menos 32 jornalistas foram assassinados desde janeiro de 2012. A maioria dos crimes fica impune, informa o relatório.

O advogado e especialista do Instituto Millenium Alexandre Coutinho Pagliarini reforça a necessidade do Brasil se empenhar mais na defesa do livre exercício da imprensa: “A liberdade de expressão é um direito fundamental garantido pela Constituição brasileira e também um direito humano garantido pela declaração da ONU. Há uma ligação umbilical entre liberdade e democracia e é por isso que nos regimes autoritários a liberdade de expressão é suprimida. O governo brasileiro, apesar de democrático, não revela muito apego pela liberdade de expressão”.

Pagliarini não vê esforços do governo para impedir e solucionar os crimes cometidos contra jornalistas: “Não há um combate efetivo desses crimes no Brasil. Percebo interesses e facções do crime organizado mancomunados com autoridades para que esse combate não vá adiante”, lamenta.

O especialista lembrou a decisão do juiz da 35ª Zona Eleitoral de Campo Grande (MS), Flávio Saad Peron, que decretou a prisão do diretor-geral do Google Brasil, Fábio José Silva Coelho. Na opinião de Pagliarini, a decisão fere a liberdade de imprensa: “Em tese, o Google abrigava um vídeo no Youtube em que um candidato do MS era acusado de várias irregularidades. Se o candidato foi ofendido, ele que busque as indenizações devidas de acordo com os artigos 5º e 10º da Constituição. Não deveria haver intervenção estatal neste caso. O Estado não deveria tolher a liberdade de expressão, pois assim nos igualamos aos regimes autoritários e fundamentalistas”, finaliza.

O jornalista Eugênio Bucci, em entrevista ao Instituto Millenium no início do ano, comentou a gravidade dos atentados aos profissionais de comunicação: “a morte de um jornalista indica um nível inaceitável de intolerância. Indica que há grupos humanos que se sentem tacitamente autorizados a suprimir uma vida para beneficiar interesses menores.” O jornalista ressaltou o caráter negativo dos casos de desrespeito à liberdade de imprensa, que, segundo ele, representam uma “deficiência da ordem democrática”.

No artigo “Por que matar jornalistas?“, Bucci comenta a impunidade dos casos: “Se os jornais não podem cobrir, o cidadão não pode saber o que se passa em sua cidade, em seu país. Com impunidade garantida, os criminosos escapam ilesos, deixando no ar a perturbadora hipótese de que haveria um acumpliciamento entre autoridades inertes e bandidos sanguinários”, concluiu.

 

Crédito da imagem: “Cartooning for Peace” – Fundação “Dessins pour la Paix”

Fonte: http://www.imil.org.br/categoria/blog/#65070

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