Comunismo de Platão versus conservadorismo de Aristóteles

Por Alessandro Barreta Garcia

Aristóteles (1985) faz uma crítica muito clara a respeito do sistema educacional de Platão. Pergunta inicialmente se é possível uma sociedade inteiramente comum a todos? Segundo Giordani (2006) na república de Platão, é desde o nascimento que as crianças pertencem ao Estado comunista. As crianças, bem como os pais, não se reconhecem em tal sociedade. Certamente nada similar ao contexto educacional sugerido por Aristóteles que não destrói a família. Por outro lado, Giordani (2006) enxerga uma similaridade por conta da idade apenas, pois, até os sete anos as crianças são cuidadas pelos pais.

Para justificar as diferenças, Giordani (2006) apresenta as seguintes explicações: “Platão era aristocrata ateniense, solteiro, místico, asceta; Aristóteles era membro de classe média, chefe de família, observador cientifico, administrador prático”(GIORDANI, 2006, p. 160). Seguramente que o fato de não ter família facilita a elaboração de um Estado que extingue esse direito. Nesse Estado, as mães são impedidas de reconhecer seus filhos. Ainda assim, questiona-se. Ter filhos, mulheres e bens em comum seria possível?

Conforme a proposta da república de Platão sim, contudo, para Aristóteles isto seria inviável. Certo dessa interpretação explica que se isso correspondesse a uma eliminação da família estaríamos tornando a cidade toda uma grande e única família. Seria o equivalente a destruição das partes que movem o todo.

Platão (2006) se empenha em explicar o que podemos considerar a destruição da família sugerindo:

Que todas essas mulheres devem pertencer em comum a todos os homens, que nenhuma delas deve viver particularmente com homem algum e que as crianças, também, devem constituir uma posse comum, de forma que nenhum pai ou mãe conhecerá seus próprios filhos e nenhuma criança seu pai ou sua mãe (PLATÃO, 2006, p. 231).

Neste ponto, devemos retomar Licurgo que já em sua constituição previa tais comportamentos. E conforme Plutarco (1951), Licurgo permitia que homens mais velhos liberassem suas esposas aos mais jovens a fim de lhes gerar novos filhos. Ademais, os jovens também poderiam emprestar suas esposas, caso a solicitação fosse suprir as necessidades de gerar filhos fortes e sadios ao Estado. As crianças, tanto para Licurgo como para Platão pertencem ao Estado. Em fim, o adultério não era crime.

Quanto ao reconhecimento de mãe, pai e filhos, a resposta na república de Platão (2006) será puramente artificial. Não podendo reconhecê-los, uma vez que, se admite a regra de considerar filho, todos os que nascem no décimo ou sétimo mês após noivado. Observa-se que a relação sexual entre irmãos era permissível.

Eliminando as partes de um todo. Como podemos fazer com que todos compartilhassem em comum, sendo pessoas diferentes vivendo as mesmas situações? Segundo Aristóteles não existe indivíduos homogêneos, o que certamente só traria problema para a organização da cidade a partir desse ideal comunista.

Além disso, quando muitos cuidam de uma mesma região, ocorre um grande desastre, os homens cuidam mais de bens que lhes são exclusivos (ARISTÓTELES, 1985). Quando se apresenta mais alguém cuidando de uma determinada região, a tendência é que o individuo se preocupe menos, pois ele está certo que outros estão fazendo por ele. Outro exemplo observado é que quanto maior for o número de criados, menos os empregados terão o cuidado com os serviços.

Ressalta ainda o fato de haver relação intima entre pais, filhos e irmão com irmão, ninguém mais reconhece ninguém. Portanto, Aristóteles já analisa o sistema de Platão e o critica de forma muito clara, isto posto, não se pode considerar os sistemas educacionais similares como muitas vezes sugerido pela literatura (GARCIA, 2011).

Segundo Aristóteles (1985), para que exista uma preocupação efetiva entre os componentes da cidade, a família é essencial e dentro dessa, o sentimento de propriedade e o de afeição são os elementos indispensáveis de uma sociedade familiar feliz e justa.

Referências

ARISTÓTELES. Política. Trad. De Mário da Gama Cury. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1985, 317p.

GARCIA, A. B. Aristóteles nos manuais de história da educação. 1. Edição, São Paulo: Clube de Autores, 2011.

GIORDANI, M. C. História da Grécia antiguidade clássica I. 8.ed. São Paulo: Vozes, 2006.

PLATÃO. A república (ou da justiça). Tradução de Edson Bini / Bauru, SP: EDIPRO, 2006.

PLUTARCO.Licurgo. In. As vidas dos homens ilustres. Trad. Brasileira de: Aristides da Siveira Lobo, São Paulo: Editora das Américas, 1951.

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